Aumento dos surtos de raiva no confinamento está relacionado ao estresse e é de acordo com o indivíduo

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Houve diversos casos recentes de pessoas que maltrataram, desrespeitaram e até agrediram o próximo nestes períodos de isolamento social para o combate à transmissão do coronavírus. O intuito deste artigo é buscar a resposta no estudo da neurociência e da psicanálise para tentar compreender esses atos explosivos que vêm afetando a sociedade.

O isolamento social eleva a ansiedade. Ansiedade é uma luta/fuga, um instinto de sobrevivência, uma expectativa apreensiva em relação ao que está por vir. Quando há a incerteza, como é o caso da cura da doença, dos riscos de contágio, da questão econômica, junto ao excesso de informações negativas, a ansiedade, por sua vez, torna-se potencializada, elevando o estresse, que é o mecanismo de pulsão para a ação da fuga, ou seja, o estresse não é uma emoção ou um sentimento, mas sim uma reação.

No confinamento podem surgir comportamentos compulsivos e repetitivos que confortam no presente, mas que em curto prazo aumentam a ansiedade. A nova rotina, fora de um padrão já adaptado, força novos hábitos em um ambiente que antes seria de descanso e lazer, trazendo, então, a impressão de que algo está errado, além de levar a um estado de preguiça que entra em conflito com a necessidade de fazer algo, resultando na sensação da falta, que, por sua vez, também aumenta a ansiedade.

Geralmente, no cotidiano, usamos a ansiedade para produzir, portanto há uma rotina de uso da mesma. No confinamento, porém, estamos menos dispostos e sem possibilidade de usá-la, o que causa mais ansiedade, levando ao estresse. Há também a sensação do limite, da “prisão”. Essa falta de liberdade coloca a pessoa numa situação de pendência da liberdade, causando, novamente, mais ansiedade.

Como funciona a ansiedade e o estresse no cérebro

 

A amígdala identifica o perigo, trazendo memórias negativas, seja de traumas, medos ou informações que nos trazem a necessidade de nos defendermos ou de buscarmos uma solução. É aí que a noradrenalina entra para buscar uma solução. A noradrenalina é um hormônio neurotransmissor precursor da adrenalina e secretado pelas glândulas suprarrenais. Seu mecanismo de ação consiste na quebra de glicogênio no fígado e nos músculos esqueléticos, além de ácidos graxos pelas células adiposas, para a produção da fonte de energia imediata em resposta ao estresse.

A adrenalina interage com muitas estruturas e regiões do cérebro, entre elas o hipocampo e o córtex pré-frontal. Esse e outros hormônios, quando entram em contato com essas regiões por um longo período, podem afetar e danificar os neurônios, contribuindo para o mau funcionamento cerebral.

O estresse, a longo prazo, afeta o córtex pré-frontal, diminuindo a capacidade de regular emoções. Altos níveis de cortisol no sangue, hormônio regulador do estresse, provocam diminuição da cognição e da memória, pois o lobo pré-frontal é sensível a esse hormônio. O cortisol é responsável por manter nosso sistema imunológico funcionando. Quando há baixa ou alta produção dessa substância em nosso organismo, isso impacta a imunidade. Ou seja, o cortisol regula o estresse, mas pode baixar a imunidade se o estresse for contínuo.

A estrutura do córtex cingulado anterior dorsal, localizado no lobo frontal, bloqueia os pensamentos mais racionais quando o estresse atinge um pico considerável para o indivíduo, para que a amígdala, relacionada às memórias do medo, possa agir para fugir do perigo.

Há pessoas que têm a amígdala maior, o que aumenta o risco de sofrerem transtornos do humor; isso pode também estar relacionado a infância traumática, negligência emocional ou excesso de estresse. As experiências pelas quais passamos desde o nascimento moldam as estruturas do cérebro.

Isso revela o fato de como vivemos e lidamos com a nossa ansiedade, que está relacionada também com a nossa experiência de vida. Por isso é que a personalidade, a criação e a educação interferem no adulto ansioso e no tamanho de sua ansiedade, assim como no comportamento mediante ao estresse.

Serotonina, hormônio do humor

 

A serotonina tem um efeito inibitório em agressão. Dados clínicos sugerem que a sua baixa produção está relacionada a agressões direcionadas e ao suicídio. Projeções serotoninérgicas que partem do núcleo da rafe para o hipocampo são responsáveis pela adaptação ao estresse repetido. A transmissão inadequada desse neurotransmissor causa irritação, mau humor, ansiedade, impaciência etc.

Reações de fúria podem estar relacionadas também com a produção inadequada de serotonina no organismo.

O hipocampo é a parte do cérebro ligada à memória emocional. Numa ansiedade constante, essa é a estrutura mais afetada, assim como é a região responsável em regular essas memórias e transformá-las em memórias de longo prazo.

Conclusão

 

Temperamentos explosivos e ataques de fúria são resultados de uma desordem e do mau funcionamento do circuito cerebral, resultado do desequilíbrio dos neurotransmissores. Lesões no cérebro, traumas na infância, fatores genético, problemas psiquiátricos, distúrbios de personalidade, fatores educacionais, entre outros, podem levar indivíduos a cometer atos impensáveis, mas impulsionados pelo estresse.

A falta de controle emocional também está vinculada à inteligência emocional; quando o cérebro tem um bom desenvolvimento nas regiões que revelam a inteligência – como a região do córtex pré-frontal do cérebro, relacionada ao planejamento de comportamentos, de pensamentos complexos e da expressão da personalidade, bem como de tomadas de decisões e da modulação do comportamento social – ele tende a reagir aos efeitos do descontrole químico.

Soluções ter mais saúde mental no confinamento:

Sono – Dormir oito horas por dia, iniciando pela noite, não pela madrugada. Experimente dormir de 23h às 7h durante uma semana e sentirá um grande resultado. Os neurotransmissores melatonina e serotonina são os reguladores do sono e do humor; este último da memorização e do bem-estar. A melatonina tem a sua produção à noite e a produção de serotonina é regulada pela quantidade de luz, principalmente pela luz do sol que atinge a retina.

Utilizar aparelhos eletrônicos que emitem luz na retina à noite, ler informações que trazem pensamentos que ativem a ansiedade e acarretam insônia… Esses comportamentos resultam em um desequilíbrio na produção desses neurotransmissores, causando desregulação também de outros neurotransmissores, já que o funcionamento do nosso cérebro é feito por meio de conexões.

Alimentação – Nossas emoções são influenciadas pela produção de neurotransmissores que fazem a comunicação entre os neurônios. No alimento encontramos aminoácidos essenciais, que não são produzidos por nosso organismo.

Eu indico uma dieta mediterrânea, que é facilmente encontrada na internet, para ajudar no controle, e o consumo de iogurtes com lactobacilos vivos para ajudar na harmonia da microbiota intestinal.

Exercício físico – Na nutrição, estocamos aminoácidos essenciais para nossos mensageiros químicos, os neurotransmissores, mas há também os aminoácidos não essenciais, que são produzidos em nosso próprio organismo. A prática de exercícios físicos ajuda na produção desses mensageiros, que são os neurotransmissores dopamina, serotonina, cortisol e endorfina, todos relacionados ao estresse.

Hábitos – eles são primordiais para o nosso bem-estar. O que comemos, a hora em que vamos dormir, se vamos nos exercitar e o que faremos para acrescentar benefícios em nossas vidas vêm do nosso comportamento, dos nossos hábitos. A melhor receita para evitar os malefícios mentais, portanto, é a mudança dos hábitos.

É comprovado cientificamente que a mudança de hábitos não só cria novas conexões cerebrais, reforçando as sinapses, o que aumenta a longevidade cerebral, como também ajuda na memorização, no equilíbrio da produção de hormônios e de neurotransmissores e também em comportamentos, de acordo com as práticas dos benefícios citados acima. Buscar hábitos cotidianos que tragam pensamentos positivos e utilizem a ansiedade como benefício para produzir melhor e de forma mais eficaz é uma maneira de utilizar a inteligência emocional para melhorar o bem-estar e a saúde mental.

Aumento dos surtos de raiva no confinamento está relacionado ao estresse e é de acordo com o indivíduo