Crónica: Relatos de uma quarentena

Compartilhe:

Mais um dia se passou, o cair da noite, me desperta essa consciência.
A natureza é a mesma, os pássaros cantam da mesma maneira e nas mesmas horas e o galo, sempre fora de hora.
A internet nos confunde a mente com muitas informações e nos colocam demente em meio a uma complexa manipulação.

Mais um dia se passou, quando tudo começou, pensei em zumbis.
Vieram todos os filmes apocalípticos em minha mente.
Mas como nos achamos imortais, vieram os pós apocalípticos em minha mente como um sobrevivente a pensar, qual a próxima medida a tomar.

Mais um dia se passou e está tudo igual.
Espero pelo amanhã mais do que esperava antes de surgir esta pandemia.
Sempre na esperança de uma boa notícia, ou na esperança de uma má notícia que não esteja perto de nós.

Mais um dia se passou. Pensei em não ligar o computador ou telemóvel mas a vontade me superou.
Estou em casa, nada anormal, em casa sempre fiquei e é tão natural.
Se não ligo a internet vai parecer um domingo qualquer. 
Mas não é, pois estou a trabalhar normal.

Mais um dia se passou. Ligo nas notícias para ver se algo mudou.
Entediado faço meu ginásio e, continuo meu trabalho, de casa.
A natureza continua igual e, ao anoitecer, sinto o alívio de ver um documentário que me tire do que é real.

Mais um dia se passou. Se nada mudar será tudo igual.
Até uma das minhas contas vencerem e a minha rotina mudar.
Pois da raiva me consumirei.
Mas espero não me desesperar.

Pois desta pandemia, o que mais temo não é a morte.
Mas é de alguém que conheço e prezo, se matar.

Por: Fabiano de Abreu

Crónica: Relatos de uma quarentena