Na emissora RTP de Portugal, filósofo Fabiano de Abreu debate com petista que alega que Lula é injustiçado
O filósofo e pesquisador político luso-brasileiro Fabiano de Abreu foi convidado pela emissora RTP3, de Portugal, para falar sobre o incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro no último domingo, dia 2. O programa também convidou Eduardo Filipe "Sama", artista visual e ativista do PT que mora em Portugal.
Perguntado se Luiz Inácio Lula da Silva deveria concorrer à presidência nas eleições deste ano, Fabiano de Abreu foi enfático: "Essa questão política é muito séria e é muito difícil para eu discutir pois sou bem neutro nesse sentido. Acho que se exite uma lei que se chama Ficha Limpa e se o Lula burlar essa lei para poder se candidatar já não tem como acreditar em um presidente que possa fazer isso. A lei precisa ser cumprida e até a segunda estância e lei da Ficha Limpa impede que alguém que tem essas acusações possa se eleger. Acho que precisa dar um espaço para tentar melhorar porque a realidade é que estamos enfrentando um problema de crise e não é só o Temer que é o culpado porque isso já vem antes dele. Começou a desde a Dilma que veio depois do Lula. Então é uma questão bem óbvia: se tem uma crise, ela veio do partido do Lula e então isso também veio do Lula. Acho que o melhor para o Brasil é o Lula não ser candidato".
Fabiano de Abreu disse que o problema veio de diversas gestões de governo e o petista culpou o presidente Michel Temer. Ou seja, não existiu imparcialidade e nem debate sobre o Museu Nacional, e sim debate político por parte do outro convidado.
"Falo bastante com alguns pesquisadores do Museu Nacional há anos pelas questões históricas e de filosofia que trato com eles. Eles reclamam do desleixo há muito tempo e hoje estão vinculando muito o acontecido como a questão política, do governo atual, mas precisamos lembrar que esse problema vem acontecendo desde a gestão do Lula e da Dilma e agora do Michel Temer. Ou seja, estamos falando de vários políticos de partidos diferentes que não tiveram olhos para o Museu Nacional. E hoje sofremos essa perda pois para nós da colônia portuguesa que vivemos aqui no Brasil, um pedaço de Portugal que nos orgulhávamos foi perdido junto. A obra de 'Os Lusíadas', de Camões, os manuscritos da bíblia em grego e coisas que não tem como recuperar. Você pode recuperar as estruturas, mas não vai recuperar o acervo que lá estava", lamentou o filósofo e pesquisador político luso-brasileiro.
Fabiano de Abreu lembrou os outros casos de incêndios como no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1978), Arquivo Público do Estado de São Paulo (2012), Memorial da América Latina (2013), Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios (2014), Museu da Língua Portuguesa (2015), Cinemateca (2016) e a casa Erbo Stenzel, residência histórica do escultor paranaense, em Curitiba (2017): "Ou seja, já é cultural esse desleixo, é histórico essa falta de preservação da história. Sem contar que você vai ver monumentos antigos no centro da cidade do Rio e de São Paulo que não tem o cuidado que deveriam ter. O triste é que quando você faz um balanço do dinheiro que é gasto no Brasil com política em termos eleitorais e na questão jurídica. O Brasil é o país que tem o maior número de políticos no mundo. E para preservar a história o dinheiro não é gasto. Não adianta os partidos políticos culparem uns aos outros pois tiveram vários partidos políticos responsáveis por esse acontecimento. A sensação é que são vários os culpados daquilo que aconteceu no Museu Nacional, não apenas um reflexo dessa política atual do governo Temer".
"Esse problema vem acontecendo há muito tempo e desde a era Lula os museus não tinham o reconhecimento necessário. Ou seja, precisamos ser imparciais. Eu, por exemplo, voto em Portugal. Nessa questão política, o que temos que saber é que existe não apenas o Museu Nacional, mas também outros monumentos que precisamos preservar. Eu tenho o livro 'Viver Pode Não Ser Tão Ruim' na Biblioteca Nacional e temo que o local também corra risco. Então acho que isso que aconteceu precisa ser utilizado para outros patrimônios históricos e tentar recuperar o máximo do que foi perdido. Não podemos abordar a questão política e sim histórica. Um pedaço de Portugal foi perdido no Rio de Janeiro e no Brasil", completou o luso-brasileiro.
Após o programa, Fabiano manifestou-se em rede social, depois que alguns internautas comentarem sobre a questão política adotada pelo outro convidado:
"Eu estou para falar do museu, eu voto em Portugal e não no Brasil, sou também pesquisador político e não estou aqui para discutir opinião partidária. A meu ver, com olhos de neutralidade, Lula tem uma condenação e não é Filha Limpa, logo, não pode se candidatar. A opinião de fanáticos não pode estar acima da lei pois, contra provas não há argumento. Quem resolve as questões da lei é a justiça e essa condena, de resto, é tudo papo furado."
