Filosofo Fabiano de Abreu questiona especialistas que apontam que filosofia será a profissão do futuro

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O filósofo e escritor Fabiano de Abreu levanta questionamentos sobre as chamadas “profissões do futuro”. A bola da vez é a filosofia
 
No currículo escolar, a filosofia e a sociologia nunca foram disciplinas de destaque, e algumas escolas nem sequer a inserem no currículo de ensino médio. Mas, segundo o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor do best-seller autor do livro "Sapiens – Uma Breve História da Humanidade", a filosofia pode ganhar espaço no mercado nos próximos anos. A ideia foi apresentada por ele em seu novo livro, "21 lições para o século 21" (Companhia das Letras).
 
O Filósofo e escritor Fabiano de Abreu levanta alguns questionamentos sobre o tema: “há 20 anos atrás, dizia-se que a profissão do futuro era o processamento de dados. O mercado ficou saturado de programadores e analistas naquela altura, e muitos ficaram desempregados. Mas a profissão do futuro já foram os cursos técnicos, e muitos que fizeram, por exemplo, eletrônica, hoje amargam o desemprego, pois os circuitos integrados tornaram as coisas mais baratas e descartáveis. É preciso distinguir a moda e a projeção da realidade”. 
 
No entanto, Fabiano concorda que com o avanço da Inteligência Artificial, a filosofia terá papel de destaque, e tanto filósofos como pessoas que exercitam sua capacidade intelectual para formar opinião e processar informação, provavelmente terão sim destaque na sociedade: “A automatização vem desde a revolução industrial do século 19 substituindo postos de trabalho mais braçal por máquinas. Agora, com o surgimento da inteligência artificial, isto pode expulsar muitos humanos do mercado de trabalho, no que tange a tomada de decisões e processamentos de dados, e isso inclui desde guardas de trânsito a analistas de sistemas. Uma IA pode analisar uma câmera de tráfego e decidir se a multa é aplicável ou não, assim como processar terabytes de informação e analisá-la, gerando relatórios precisos e direcionados a facilitar a tomada de decisões. Ja está a acontecer. Penso que em 20 anos, as coisas caminharão nesse sentido ainda mais. Logo, estudar filosofia pode ser sim um bom negócio”. 
 
Fabiano aponta que apesar da capacidade de tomada de decisão para fins práticos das inteligências artificiais, elas não são dotadas de senso moral e ético, nem tampouco de empatia, pois são sintéticas. Logo, um filósofo será necessário para casos que envolvam juízo: “Sempre que houver uma necessidade mais reflexiva, como no caso de juízos morais, estéticos e epistemológicos, o filósofo será necessário, pois não se pode ensinar moral e ética a máquinas. E acredito que isso não seja uma questão de limitação tecnológica, e sim de humanidade”. 
 
No entanto, Fabiano alerta que não acredita que no momento haja demanda suficiente para a filosofia no mercado de trabalho, mas crê na possibilidade deste futuro começar a ser mais palpável, a medida em que os processos forem ainda mais automatizados: “a procura por filósofos não será imediata, e pode levar uns 10 a 20 anos, porque, no momento, o mercado ainda está focado em criar aplicações para trabalhos bem específicos, e alguns na esfera mais burocrática, e não precisam lidar com questões mais éticas e morais. Enquanto isso, no entanto, defendo que a filosofia seja ensinada de forma regular nas escolas e universidades, independente da cadeira cursada, pois ela ajuda a formar juízo, a estimular o livre pensamento, e a desenvolver valores que nos tipificam como humanos”, conclui.
Filosofo Fabiano de Abreu questiona especialistas que apontam que filosofia será a profissão do futuro